sábado, 9 de janeiro de 2010

Crianças não são mini-adultos!

Extraído do livro “You Are Your Child's First Teacher”, por Rahima Baldwin Dancy (tradução livre)

Uma forma de evitar muitos dos problemas que assolam os pais atualmente é entender o desenvolvimento infantil. Se pudermos compreender a natureza da criança pequena a medida que esta desabrocha, poderemos suprir as verdadeiras necessidades da criança e promover o desenvolvimento harmonioso da mente, corpo e emoções.

Apesar das crianças serem, obviamente, muito diferentes dos adultos, nossa cultura costuma tratá-las como “mini-adultos privilegiados” e tentar apressá-las pela infância. Diversos problemas surgem quando não nos damos conta de como uma criança de três anos é diferente de uma de nove, de um adolescente ou de um adulto. Isso parece óbvio, mas muitos pais levam todos os seus filhos ao mesmo filme numa tentativa de serem justos, ou então tentam fazer seu filho de cinco anos raciocinar como se sua habilidade com palavras devesse se traduzir diretamente em controle sobre suas próprias ações.

Atualmente, a “síndrome da criança apressada” está evidente em todos os setores de atividade. Fisicamente, é óbvio que os corpos das crianças não estão maduros ainda, mas mesmo assim tentamos apressar seu desenvolvimento com andadores ou “ginástica” para bebês. Similarmente, jeans de marca e bonecas Barbie para meninas pequenas contribuem para que entrem cada vez mais cedo no mundo adolescente de maquiagem, roupas e dietas.

Também é óbvio que crianças não são iguais aos adultos em termos emocionais. Uma criança pequena pode sorrir por entre lágrimas quando lhe é apresentada a mínima distração. A criança feliz de quatro anos contrasta fortemente do adolescente mau-humorado. Como um se transforma no outro? Está claro que a vida emocional interna leva muito tempo para desenvolver a complexidade e que tem a dos adultos. Porém, muitos adultos tentam desenvolver as emoções dos filhos e tentar fazer com que tenham consciência destas emoções nomeando, expressando ou até mesmo praticando emoções com eles. E tendemos a expor crianças pequenas a situações demasiadamente fortes emocionalmente (da próxima vez que for ao cinema perceba quantas crianças infelizes estão por lá!).

É óbvio que crianças não raciocinam da mesma forma que os adultos. Elas conseguem dizer frases fantásticas, tanto sobre como o mundo funciona e sobre coisas erradas que não deveriam ter feito mas que “de alguma forma” aconteceram. Porém, o pensamento lógico e a capacidade de resolução de problemas se desenvolvem lentamente. Crianças muito pequenas, por exemplo, carecem de “permanência de objetos”, e procurarão por um objeto no local onde sempre o acham, ao invés de no lugar onde viram a mãe colocar. Crianças menores que seis anos ainda não tem a habilidade que Piaget chama de “pensamento operacional concreto”. O raciocínio lógico não se desenvolve até os dez ou onze anos, conforme observado pelos estudos de Piaget. Ou seja, há muito tempo vem se documentando que a capacidade de raciocinar e pensar de forma lógica é um poder que desabrocha aos poucos, à medida que a criança cresce e se apropria dele. Como adultos esquecemos como era viver num mundo não-linear e não-sequencial. Temos a expectativa de poder raciocinar com nossos filhos assim que eles comecem a falar. Tentamos fazê-los raciocinar sobre tudo desde seu comportamento e respectivas consequências até os motivos que fazem o mar ser salgado. E, de fato, algumas crianças demonstram grande habilidade de levar adiante tais conversas com seus pais; porém, estas crianças aprenderam a fazer isto imitando anos deste tipo de interação com os pais. Crianças pequenas ainda não pensam de forma racional, e o uso do raciocínio tem pouco impacto na mudança do seu comportamento.

Similarmente, oferecemos longas explicações científicas como respostas às indagações das crianças, quando uma experiência direta de algo semelhante ou uma imagem que pode ganhar vida e se transformar através de sua imaginação lhes daria muito mais satisfação. Explanações racionais são como dar pedras ao invés de pão a uma criança com fome. Quando uma criança pergunta coisas do tipo “Por que o sol brilha?” ela está, na verdade, indagando sobre o propósito do sol e não sobre mecânica; por isso, ficam muito mais satisfeitas com uma resposta do tipo “Para nos manter quentes e fazer a grama e as flores crescerem” ao invés de uma palestra sobre termodinâmica.