sábado, 13 de julho de 2013

Como conviver tranquilamente com uma criança de dois anos



Os dois anos são uma idade interessante, porém difícil. Como viver em paz com uma criança de dois anos?

Creio que a primeira coisa que devemos fazer é ter clareza sobre qual é nossa perspectiva a respeito de crianças pequenas e o que a disciplina significa para você e sua família. Por exemplo, exercer uma forma de disciplina mais pacífica (como apresentada aqui) lhe traz medo de que seus filhos não terão limites? Você não consegue visualizar outras ferramentas que substituam o gritar ou o castigo? Pense a respeito!

Lembre-se que as crianças pequenas não são mini-adultos que racionalizam e precisam de informação sobre tudo como nós. É preciso esforço, paciência e muita repetição para guiar uma criança! As crianças precisam ser tratadas com dignidade e respeito, calor e amor. Elas merecem isso, mesmo porque irão imitar sua forma de agir.

Como sempre, tudo começa verdadeiramente com você mesmo(a). Você deve estar o mais centrado(a) possível, pois se achar que vai perder as estribeiras todas as vezes que seu filho(a) de dois anos se descontrolar, será realmente um longo ano. Uma criança de dois anos tem um excesso completo de emoções e impulsos que elas não podem regular de forma alguma. Visualize a si mesmo(a) como uma esponja que suga todas essas emoções em excesso; sim, é exaustivo, mas faz parte de ser pai e mãe. Então parte do seu trabalho interior, que deve ser prioridade, é se fortalecer a fim de poder dar este suporte para a criança. Uma opção que funciona para algumas pessoas (no sentido de se fortalecer para poder dar apoio à criança) é realizar atividades artísticas regularmente, como pintar, desenhar ou esculpir diversas vezes por semana.

Também é essencial ter apoio de pais com opiniões parecidas sobre a criação dos filhos. Não aqueles que dirão “Meu Deus, como esse menino está lhe manipulando!”, mas sim aqueles que compreendem a natureza de uma criança de dois anos e que podem lhe ajudar numa perspectiva amorosa.

É importante saber que as crianças de dois anos têm dificuldade em compreender gestos não verbais, como por exemplo a cara feia que você faz para um mau comportamento. Na verdade a criança de dois anos, na melhor das hipóteses, sabe apenas imitar, e pode até fazer uma cara feia para você como resposta ou qualquer outra coisa que você estiver fazendo naquele momento. Afinal, eles estão lhe imitando e nem sempre fazem ideia de que você está com raiva. Às vezes a criança de dois anos até ri quando a mãe está com raiva. Isso NÃO é uma risada zombeteira ou desafiadora, mas apenas uma demonstração de que a criança sabe que alguma coisa relativa às emoções da mãe está diferente naquele momento, mas não sabe o que fazer ou como consertar. Pense nesse tipo de comportamento como uma expressão de insegurança por parte da criança e tente adequar sua reação de acordo com essa ideia.

Outra questão importante é refletir sobre sua própria postura em relação à raiva. Como você reage no calor do momento? Qual é o seu plano? Que ferramentas você pode usar para ajudar a guiar seu pequeno filho(a) ao invés de gritar e brigar?

Abaixo seguem algumas práticas e ferramentas que podem ser utilizadas para disciplinar seu filho(a) gentilmente e pacificamente (além do seu próprio trabalho interior, é claro):
  • CONEXÃO! Aprecie estar junto do seu filho(a): amamentar, dormir junto, colocar no colo, carregar num sling, brincar junto, comer junto. Se quatro anos ainda é uma boa idade para dar colo, imagine que uma criança de dois anos ainda é muito pequenina! A conexão é de extrema importância!
  • RITMO! Tenha um ritmo diário, especialmente para as horas das refeições e de descanso. E lembre-se que para a criança dormir no horário certo é preciso ter hora certa para acordar também (veja aqui um artigo sobre ritmo: http://acordagirassol.blogspot.com.br/2011/07/trazendo-ritmo-para-vida-do-bebe.html).
  • Cantar e dizer versos ao invés de comandos diretos pode ser muito eficaz. Evite fazer perguntas que você sabe, de antemão, que serão respondidas com um “NÃO!”. Cante, promova o silêncio e pare de ficar fazendo perguntas e mais perguntas (ex: “Você quer isso? Você quer aquilo?” – o melhor é guiar a criança para a ação ou dar o exemplo, como simplesmente colocar o alimento na mesa e começar a comer na frente dela na hora do lanche). E você pode demonstrar o seu amor por meio de sorrisos, carinho, abraços, risadas – não apenas palavras!
  • Falar com a criança por meio de imagens também é muito eficaz. Use a imaginação! Exemplo: “Fulano, venha até aqui pulando com um coelhinho”.
  • Em momentos de crise, tente respirar fundo algumas vezes antes de reagir. E sempre que possível use táticas de distração ou redirecionamento.
  •  Você nunca pode ter medo de pegar no braço uma criança gritando e chutando. A criança de dois anos pode, naquele momento, precisar que você gentilmente a contenha para que volte a si. E se isso não funcionar, procure não ficar tão ansioso(a) para que a criança pare. Simplesmente esteja presente e saiba que essa é uma das formas que a criança usa para colocar para fora o que para ela é, naquele momento, uma torrente de emoções. Fique calmo(a) e espere passar. É claro que é preciso intervir se o local oferece riscos à criança ou se ela está quebrando coisas, levando-a se possível a um outro local (na grama é ótimo!!).
  •  A criança dessa idade precisa passar MUITO tempo fora de casa em locais abertos onde possa se movimentar: no parquinho, na natureza, etc. Ela precisa usar sua energia, empurrar coisas, puxar, se acocorar, etc. Precisa de brincadeiras que estimulem os sentidos: água, areia, lama...
  • Não dê nenhuma escolha, ou poucas. É muito difícil para uma criança de dois anos fazer uma escolha, mesmo que mínima. Inevitavelmente ela vai querer uma coisa e depois a outra e depois vem o desespero, o escândalo! Não coloque a criança nesta situação difícil!
  •  Tente realizar seus compromissos de rua (compras e etc.) sozinho(a), se possível. Isso evita tantos problemas nessa idade!
  • Evite criar a expectativa de que o dia só será “bom” se seu filho(a) de dois anos se comportar completamente e não der nenhum “ataque”. Reformule suas expectativas e avalie o seu dia de acordo com a forma (e a calma!) como você conseguiu lidar com as situações difíceis. E, por favor, perdoe a si mesmo! Nós, como pais, estamos numa jornada que necessita de muito esforço.
  • Não espere que uma criança de dois anos saiba compartilhar bem suas coisas ou que fique calma e silenciosa enquanto seu irmãozinho mais novo cochila por duas horas, por exemplo.
  • Guie seu filho(a) de acordo com que sua família precisa como um todo.
  •  Não se sinta ofendido(a) se você não for o pai/mãe preferido(a) da semana. Não é pessoal!


Por fim, tente aproveitar essa idade! É preciosa e passa tão rápido!


Entrevista sobre a criança e o sono

As crianças precisam de mais horas de sono do que se imagina. E ele é fundamental para a saúde e o desenvolvimento.

Entrevista com o médico antroposófico Derblai Sebben 
Conversamos com o médico Derblai Sebben, que estudou Ritmos Biológicos na USP (Universidade de São Paulo) e Medicina do Sono na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), para saber quais são os principais erros que os pais cometem em relação ao sono dos filhos. Deixá-los acordados até tarde, não manter horários de rotina e supor que a criança não dorme “porque é assim mesmo” estão entre os maiores enganos. Mas o pior dos problemas é deixar a criança dormir menos do que precisa – e elas precisam de muitas horas de sono por dia. Confira.
iG: Quais os erros mais comuns que os pais cometem em relação ao sono dos filhos?
Derblai Rogério Sebben: O principal problema da vida moderna é a falta de ritmo – ou seja, a falta de rotina. A vida moderna dos pais faz com que a gente viva correndo. A pessoa acorda atrasada de manhã, corre para tomar café e passa o resto do dia ansiosa. Isso incomoda a criança facilmente. Elas sofrem com essa falta de rotina, com a vida apressada dos pais. As crianças ficam agitadas, essa falta de ritmo leva à hiperatividade da criança. E isso geralmente tem relação direta com a falta de rotina dos adultos.
As crianças precisam de ritmo. Ritmo é igual a saúde. Se você quer que alguém se desenvolva com mais saúde, a estratégia é cuidar dos ritmos.Comer na hora certa, dormir na hora certa, criar e seguir uma rotina. Se os pais não mantêm uma rotina para si, isso passa para as crianças – e elas adoecem, psicológica e fisicamente.
Outro erro comum dos pais é achar que as crianças já nascem com problemas de sono. As mães me falam: “meu filho não dorme, desde bebê ele é assim”. Nada disso! A não ser que a criança nasça com um problema neurológico mais grave, sempre explico para elas que a “programação genética” da criança é ela dormir quando o sol se põe e acordar quando o sol nasce. Muitos pais se enganam e acham que o filho tem um problema, mas é só falta de rotina.
iG: Muitos pais estabelecem uma rotina em que a criança vai dormir mais tarde porque eles chegam tarde do trabalho, e querem passar algum tempo com o filho. Como resolver este dilema? É melhor ficar sem ver os pais no dia a dia?
Derblai: Os estudos mostram que, durante o horário das 8 às 10 horas da noite, a criança se beneficia muito mais do sono do que da presença dos pais. Mas isso pode ser adaptado, claro. Se querem passar um tempo com os filhos, seria mais razoável que, ao chegar em casa, os pais tivessem uma conduta que vá tranquilizando a criança. Fazer um lanchinho leve, colocar na cama, ler uma história são opções melhores do que chegar e brincar, fazer bagunça, estimular. A criança poderia dormir às 8 ou 9, mas acaba dormindo às 10 horas da noite, porque os pais chegam e estimulam demais. As mães e os pais devem se lembrar que às 8, 9 da noite, eles próprios já estão cansados também. O melhor é que os filhos já estejam dormindo quando os pais chegam em casa, se eles chegam tarde. E, uma vez por semana, os pais podem se comprometer a chegar mais cedo e ficar com a criança antes dela dormir.
iG: Qual a importância do sono na infância?
Derblai: Até os 18, 20 anos de idade, o organismo da criança ou do adolescente está em formação. Enquanto nós, adultos, dormimos para regenerar os órgãos, a criança dorme para formá-los. Órgãos, ossos, músculos – o corpo inteiro delas está em desenvolvimento, crescimento. O principal deles é o cérebro. O sono tem participação fundamental no desenvolvimento neurológico. A criança que dorme bem forma melhor seu cérebro, o que influencia também no comportamento. Dormir bem previne o déficit de atenção e a hiperatividade.
iG: Quanto tempo de sono por dia uma criança, em cada fase, deve ter?
Derblai: Quando recém-nascido, o ideal é dormir de 15 a 18 horas por dia. Na fase de lactente, até os dois anos, a recomendação é de 13 a 15 horas. Os pré-escolares (até 5 anos) precisam de 12 a 13 horas diárias de sono. A criança em idade escolar (de 5 a 11 anos), precisam de 10 a 12 horas e o adolescente, de 9 a 10 horas.
iG: Qual a melhor hora para as crianças irem para a cama?
Derblai: Por volta das 7, 8 horas da noite, a produção do hormônio melatonina, que regula o sono, sobe – e a adrenalina desce. Esse é o horário em que é mais fácil a criança dormir. Mais fácil do que às 10 horas da noite, quando se inverte a produção.
iG: Quais os problemas que a falta de sono acarreta para as crianças?
Derblai: A criança que dorme mal pode ter problemas de imunidade – fica resfriada com mais frequência, por exemplo. Quando dormem mal, os pequenos não ficam como a gente, em ritmo lento. Eles ficam elétricos e podem ter problemas de comportamento.
iG: Quais as dicas para a hora de colocar uma criança para dormir?
Derblai: O sono é uma questão biológica. Quem dorme é o corpo, o cérebro tem que ser orientado para dormir. Como induzir o cérebro ao sono? As palavras-chave são escuro e silêncio. Esta dupla dispara a liberação da melatonina. Outras dicas práticas são ter um horário fixo e criar um ambiente apropriado para o sono. Fazer um ritual é uma boa ideia: pode acender uma velinha, deixar uma luz de abajur suave, contar uma história, fazer uma massagem – não massagem especializada, apenas um toque agradável. O importante do ritual é sua repetição. E ele deve ser bem simples. Quanto mais simples para a mãe, melhor para a criança.
iG: E o que não fazer na hora de dormir?
Derblai: Colocar para dormir com televisão ligada, DVD ou música não são atitudes recomendáveis.